Não consegui, porém, ficar distante do futebol. Costurei um acordo com a ESPN, coloquei alguns telões na sede da Continental em São Paulo, e criei cardápios que se adequassem a todas as partidas que exibiríamos.
Nas datas das pugnas do Brasil, claro, haveria uma lautíssima, generosa Feijoada. E, nas outras ocasiões, eu cometeria pratos das seleções em confronto.
Na tarde paulistana da decisão, montei uma mesinha num canto para lá acomodar as duas filhas mais novinhas, a sua então babá, a esposa e o pimpolho que tinha herdado dela. Pretendíamos festejar um sucesso do Brasil sobre a França.
De todo modo, rapidamente me choquei quando o caríssimo Mílton Leite (ao lado de quem, por uma década, depois, eu comentaria o Calcio) anunciou que o Ronaldo Fenômeno talvez não atuasse no estádio de St.-Denis.
O drama se conhece, a história de um eventual ataque de convulsões.
Mas, o meu apego, perdão, inexorável, ao deslindamento de mistérios, a minha velha experiência como repórter investigativo, me dominaram. Fiz algumas ligações por telefone a colegas, claro, não brasileiros, que estavam em Paris, e, ao cabo de algumas infrormações, concluí se tratar de uma tolice mal contada.
Em dez dias de loucura que me custaram uma pequena fortuna em viagens e em traslados, em conexões nacionais e internacionais, em entrevistas com personagens, digamos, improváveis, como um gerente de hotel, camareiras, médicos e enfermeiros de um hospital da “Cidade Luz”, motoristas de ônibus e de táxis, familiares, colegas e desafetos do craque, concluí que ele sofrera uma crise de Síndrome de Pânico.
Isso mesmo.
Na meninice, um mano mais idoso o obrigava a ver filmes de terror, temas que Ronaldo odiava. O garoto chegava a se enfiar debaixo do sofá, de maneira a se proteger. Inutilmente. O irmão, sem medir as futuras consequências, o arrastava para cima, implacavelmente.
Relatei a minha pesquisa exaustiva, com o máximo de minúcias, no livro “Brasil, o Quase Campeão do Século”, que a editora L&PM lançou nas lojas meramente duas semanas após a pugna fatal.
Acha-se o livro no site da editora e em um batalhão de sebos.
Fonte: R7/blog do Silvio Lancellotti.
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